Deficiência de Vitamina D: uma epidemia ou uma histeria coletiva?
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  • Foto do escritorDr João Alho

Deficiência de Vitamina D: uma epidemia ou uma histeria coletiva?

Quem nunca recebeu um pedido de exame para dosagem de vitamina D ou uma receita médica com reposição da mesma vitamina? Se sua resposta é não, com certeza você conhece alguém que tenha ganhado um receituário carimbado e assinado por um médico pedindo esse exame ou essa suplementação. A medicina baseada em evidencias tem estudado cada vez mais essa situação e as principais instituições científicas do mundo condenam essa epidemia de prescrição da vitamina D que ocorre nos dias de hoje.


Adultos e crianças saudáveis não precisam tomar vitamina D. Isso quer dizer que não tem benefício algum para a saúde tomar reposições de vitamina D (ou de qualquer outra vitamina) para a esmagadora maioria da população mundial. O termo saudável também pode soar inadequado, pois também a maior parte das doenças crônicas - como diabetes e hipertensão - também não apresentam benefícios com a tomada dessa vitamina. Mesmo quando são estudados efeitos diretos possíveis dela - como no osso - ela não preveniu fraturas nem osteoporose na população geral. Mas o que vemos infelizmente é o contrário: legiões de pessoas tomando suplementos vitamínicos em todas as faixas etárias.

Quem ganha com isso? A indústria farmacêutica sem dúvidas, além do comércio das vitaminas no varejo. Em doses habituais não causará mal aos pacientes, mas adicionar mais um comprimido a um doente que toma varias remédios aumenta a chance de ele esquecer de tomar uma medicação que realmente importa. Sem contar o custo financeiro disso tudo… Pense bem, se fosse algo tão necessário assim as empresas não usariam atores e artistas famosos para fazer tanta propaganda…


O USPSTK, órgão mais importante do mundo no que diz respeito a medicina preventiva, desencoraja o uso rotineiro de vitamina D para a população geral (ou sua dosagem), sendo enfático que não há benefício nesta medida. (https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Document/UpdateSummaryFinal/vitamin-d-calcium-or-combined-supplementation-for-the-primary-prevention-of-fractures-in-adults-preventive-medication)

Dr João, quer dizer que a vitamina D não tem utilidade na medicina moderna?

Claro que ela tem. Então precisamos entender as suas indicações.

Alguns pacientes tem risco elevado de osteoporose e outros problemas do metabolismo ósseo, que então precisam ter uma atenção especial às suas dosagens e receber reposição se necessário. Mesmo que estejam em níveis desejáveis de vitamina D, precisam manter recebendo uma reposição basal, mas sempre com acompanhamento médico.

Entre esses pacientes nós podemos incluir os portadores de artrite reumatóide, os doentes renais crônicos (apenas em estágios avançados), os pacientes em uso de corticoide, portadores de doenças do metabolismo ósseo (hipofosfatasia, osteomalácia e etc) e também aqueles portadores de osteopenia e de osteoporose já instaladas. Essa medida serve para evitar a perda de massa óssea e para prevenir fraturas patológicas.

Alguns outros grupos de paciente precisam da reposição da vitamina D não pelo metabolismo do osso, mas para ajudar na imunidade. Após estudos em cobaias animais experimentais, viu-se que pacientes com doenças autoimunes tem níveis menores de vitamina D. Quando compararam cobaias com doenças autoimunes (Lúpus, Artrite Reumatoide, Doenças Inflamatórias Intestinais e Esclerose Múltipla nestes estudos) mostrou que aquelas recebendo reposição de vitamina D tiveram desfechos melhores. Embora haja muitas críticas e limitações a esses estudos (especialmente por não terem sido em humanos), acaba sendo uma orientação que pacientes com doenças autoimunes crônicas também tenham atenção à vitamina D pelos seus médicos, sendo a prescrição da reposição individualizada.


O que podemos resumir desta conversa é que a reposição de qualquer vitamina não deve ser feita sem a avaliação do seu médico de confiança. Mesmo que você tenha indicação de receber a reposição de vitamina D - o que é uma exceção quando se compara com a população geral - a dosagem e o acompanhamento devem ser restritos ao seu médico, sempre se atentando às doenças e à individualidade de cada um.

Agradeço a atenção de todos. Fiquem à vontade para tirarem suas dúvidas e até a próxima.

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