Gota e Ácido Úrico
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  • Foto do escritorDr João Alho

Gota e Ácido Úrico


A sabedoria popular muito fala sobre os problemas relacionados ao ácido úrico. É fato que muita coisa do que se diz não é verdade e não pode ser colocado na conta dele, porém, cada vez mais a medicina tem estudado este composto e encontrado novas funções no nosso corpo, incluindo benefícios e malefícios. Mas a ciência - do livro e do povo - sabem de uma coisa: o seu excesso é ruim para o organismo.

Algumas pessoas são portadoras do excesso de ácido úrico - que chamamos de Hiperuricemia - e nunca vão sentir nada na vida. Entretanto, o acúmulo desse ácido pode causar uma comum doença reumática chamada de Gota. Ela ocorre mais em homens do que em mulheres (proporção de até 15 homens para cada mulher acometida) e em geral acomete indivíduos a partir dos 30 anos. Quando acomete paciente jovens, pode estar relacionada a algum problema genético de metabolismo. Geralmente, a primeira manifestação é uma crise no dedão do pé, uma artrite que chamamos de Podagra. O paciente reclama de muita dor, inchaço e calor no local. Mesmo sem um tratamento especifico, a crise passa em alguns dias. O paciente costuma ficar sem nenhuma queixa até a próxima crise…

Por algum tempo costuma ficar restrita aos pés, mas com o avançar da doença, as crises começam a aparecer nos joelhos, tornozelos, cotovelos, punhos e demais articulações. Em geral a crise é em apenas uma articulação - uma monoartrite -, mas com o tempo pode se apresentar em algumas articulações ao mesmo tempo - o que chamamos de oligoartrite.

Exemplos de artrites gotosas

Assim como em outros reumatismos como a Artrite Reumatóide, a gota pode causar erosões nas articulações. Em português claro, a inflamação que a doença causa arranca um pedaço dos ossos que acomete. Há um padrão específico de erosão da Gota que é em saca-bocado. Caso o fenômeno se perpetue, acontece o que chamamos de Gota Secundária, que é uma artrite mais generalizada e inflamatória relacionada às sequelas da doença. Entretanto, com o tratamento e com o controle adequado da doença - ou seja, dos níveis de ácido úrico - as crises deixam de ocorrer (ou ocorrem apenas ocasionalmente) e impedimos que o processo de erosão ocorra.

A Gota pode ser dividida entre Tofácea e não-Tofácea. Tofácea se diz da Gota cujo paciente apresenta Tofos gotosos, que nada mais são que bolsões de ácido úrico acumulados. Em geral se localizam em superfícies extensoras dos membros e perto de articulações como o cotovelo e os punhos, mas pode também se localizar nos pés, ao redor das orelhas e no tórax e raramente na coluna vertebral e dentro de cavidades corporais. O alvo de ácido úrico para cada tipo de paciente é diferente, sendo o controle dos pacientes Tofáceos mais rigoroso. O alvo também é diferente entre homens e mulheres.

A gota também pode ser dividida quanto ao seu mecanismo de causar a doença em Hiperprodutora (20% dos casos) ou Hipoexcretora (80% dos casos). O raciocínio é simples: se existe muito ácido úrico, é porque o corpo ou está produzindo muito ou está liberando pouco (principalmente pela urina).

Alguns fatores de risco são conhecidos para ter gota, como historia familiar da doença, uso de algumas medicações (ciclosporina, hidroclorotiazida e aspirina por exemplo), problemas renais, síndrome metabólica/obesidade, transplante de órgãos e insuficiência cardíaca. A dieta também pode influenciar, de modo que sabemos que alguns alimentos aumentam o risco de gota - e o risco de crises em quem tem gota: refrigerantes, bebidas alcólicas, frutos do mar e carne vermelha em excesso. A gota também pode estar associada a pedra no rim - pelo mesmo ácido úrico - em até 25% dos casos. O tratamento específico também evita crises desta condição.

Embora existam critérios na literatura, o diagnóstico da gota acaba sendo clínico, tendo a demonstração de uma artrite no padrão da doença somado a achado de hiperuricemia ou presença de cristais de urato no líquido articular (quando puncionado) ou também a achados de exames de imagem - radiografia, ultrassonografia ou tomografia de dupla emissão. Exames para detectar pedras nos rins também devem ser feitos, além de dosar os colesteróis e pesquisar a função renal e a presença de diabetes e fazer um exame de acido úrico na urina de 24 horas. O controle de outras doenças no paciente com gota é fundamental para o cuidado este reumatismo.

Tofos gotosos

O tratamento da gota se divide em duas partes: para a crise aguda e para o ácido úrico elevado. Durante uma crise, não é prudente iniciar o remedio para baixar o acido úrico, pois isso acaba piorando paradoxalmente a crise. Já o tratamento para baixar a hiperuricemia pode ser diferente se o paciente for hiperprodutor ou hipoexcretor. São diversas as opções para o tratamento nas duas etapas, mas cabe ao médico a escolha para que cada paciente receba as melhores opções para o seu organismo, respeitando a individualidade da pessoa e os potenciais efeitos colaterais das medicações.

O paciente com Gota, por mais que esteja bem controlado, tem que visitar frequentemente seu médico para colher os exames para avaliar o tratamento da doença, pois todas as medicações acima também podem causar efeitos colaterais importantes, portanto, a tomada em uso contínuo deve ser monitorada por um médico.



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